Brasil | Buses
lunes 07 de agosto de 2023
1800 ônibus elétricos a serem fabricados, recuperação do mercado e o papel da China, segundo a Eletra
A Eletra opera as solicitações de várias prefeituras que querem iniciar processos de transição de frota e, em diálogo com o Portal Movilidad, aponta o crescimento da cadeia produtiva brasileira na América Latina e analisa a competição com a China.
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A Eletra e o crescimento da indústria brasileira: as condições para que o Brasil seja potência no mercado.
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A Eletra, empresa brasileira de ônibus elétricos, trólebus e e-trofit com sede em São Bernardo do Campo (SP), estima fabricar 1.800 unidades elétricas para distribuição no país até 2024.

A empresa lançou o mais completo portfólio de ônibus elétricos da América Latina, produzidos no Brasil, até o final de 2022.

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Iêda Maria A. Oliveira, diretora executiva da Electra

Iêda Maria A. Oliveira, diretora executiva da Eletra, em entrevista ao Portal Movilidad, analisa o crescimento da indústria brasileira de mobilidade elétrica, as condições para que o Brasil se torne uma potência no mercado e o papel dos produtos importados da China.

Qual é a perspectiva de crescimento da Eletra?

Até 2024, esperamos produzir pelo menos 1.800 ônibus elétricos para diferentes cidades brasileiras.

Atualmente, estamos atendendo a solicitações de várias prefeituras que desejam iniciar processos de transição de frota e adotaram programas de testes de ônibus elétricos.

Entre elas estão Salvador, Grande Vitória, Curitiba, Goiânia, São Bernardo do Campo e Santo André.

Mas o programa mais importante é, sem dúvida, o da Prefeitura de São Paulo, que planeja renovar toda a frota de 14.400 ônibus a diesel até 2038 e pretende colocar em circulação 2.600 unidades elétricas até 2024.

A cidade de São Paulo prevê a entrada de 450 ônibus elétricos no sistema de transporte este ano e cerca de 2.000 no ano que vem, e estamos trabalhando para homologar seus veículos e nos apresentar como a melhor solução para os operadores de São Paulo.

Você acha que é rentável fabricar ônibus elétricos em massa no Brasil em relação aos custos de importação?

O Brasil já tem uma cadeia produtiva completa de ônibus elétricos e pode ser uma potência no mercado.

Temos unidades fabricadas com tecnologia nacional, fábricas locais e assistência técnica garantida por empresas aqui instaladas, como WEG, Mercedes Benz e Caio, entre outras.

O operador quer ter a certeza de que o investimento inicial será rapidamente compensado não só pelo menor custo de operação, em termos de energia e manutenção, mas também pela assistência técnica e reposição em território nacional. E esse é o grande diferencial da Eletra e de seus parceiros.

Temos condições de atender à demanda de eletrificação da frota nas cidades brasileiras e ser um player global na eletrificação do transporte público.

Portanto, o crescimento da demanda levará naturalmente a uma redução do custo unitário inicial do ônibus elétrico brasileiro, e estamos trabalhando para criar esse círculo virtuoso.

IBMS: “Trabalhamos em Plano Padrão de Mobilidade Urbana que incentiva a eletromobilidade”

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Eletra lançou o mais completo portfólio de ônibus elétricos da América Latina produzidos no Brasil no final de 2022.

O modelo de negócios está correto?

A eletromobilidade exige novos modelos de negócios para o transporte público.

Um ônibus elétrico tem uma vida útil mínima de 15 anos e pode facilmente chegar a 20 anos, e muitos dos veículos elétricos que produzimos há mais de 20 anos ainda estão em uso atualmente.

Isso significa que a prática usual de revender os ônibus das operadoras para centros menores após os dez anos de vida útil estipulados nos contratos das grandes cidades não faz mais sentido.

É justamente porque o ônibus elétrico tem uma longa vida útil que o investimento inicial se paga e oferece um bom retorno ao operador quanto mais tempo o veículo for usado.

Eu poderia mencionar o chamado modelo chileno, que na verdade teve origem na Austrália, onde os ativos adquiridos pela empresa de energia são separados da operação.

Assim, as empresas de ônibus só precisam se preocupar com a qualidade da prestação do serviço, o que traz mais segurança para todas as partes.

Mas esse é apenas um exemplo de modelo inovador e, na Eletra, temos o compromisso de descobrir novos modelos de acordo com as características de cada região.

Quais seriam os incentivos para a produção em massa de ônibus elétricos no Brasil?

Considero importante a incorporação de políticas públicas que incentivem a transição energética, levando ao aumento da demanda e à redução do preço unitário dos ônibus elétricos.

A Estratégia Nacional de Descarbonização da Economia até 2050 não deve focar apenas no controle do desmatamento dos biomas florestais e das emissões do agronegócio.

Ela deve ter metas claras para a descarbonização do transporte público, que é responsável por 24% das emissões de material particulado somente na cidade de São Paulo.

Na mesma linha, o Marco Legal do Transporte Público, atualmente em tramitação no Congresso, deve ter metas claras para a transição dos ônibus a diesel nas grandes cidades.

De acordo com o último censo, o Brasil tem 319 municípios com mais de 100.000 habitantes e estima-se que todos eles exigirão a eletrificação de suas frotas de ônibus.

No entanto, até o momento, não temos nem 20 municípios com leis ou metas firmes de transição de frota.

Há 110.000 ônibus urbanos em circulação no país, dos quais menos de 380 são elétricos.

Você acha que uma Estratégia Nacional aceleraria o processo?

Certamente que sim. O Brasil está atrasado na definição dessa estratégia.  

Até mesmo países como Paraguai, Chile e Colômbia têm Estratégias Nacionais para a eletrificação do transporte.

Hoje entendo que é uma prioridade e estou trabalhando em duas frentes com a Eletra em conjunto com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) para promovê-la. 

Em primeiro lugar, apoiando a Frente Parlamentar da Eletromobilidade no Congresso Nacional e, em segundo lugar, participando ativamente dos grupos de trabalho, planejados pelo atual Governo Federal, para discutir políticas públicas de eletromobilidade

Estamos comprometidos com o avanço da segunda etapa do programa automotivo Rota 2030 e com o recém-anunciado GT-7, cujo objetivo declarado é preparar um Plano Nacional de Eletromobilidade até o início de 2024.

Qual é o papel que o senhora vê para as marcas chinesas no mercado brasileiro?

Acho que as regras do jogo para as empresas chinesas devem ser as mesmas que para as de qualquer bandeira. 

Mas me pergunto: elas investirão em fábricas locais? darão preferência à cadeia de suprimentos local? criarão empregos? transferirão tecnologia? farão produtos adaptados à realidade brasileira e garantirão assistência técnica e peças de reposição?

Se isso acontecer, eles serão bem-vindos.

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LulaLuiz Inácio Lula da Silva na sede da Eletra: «Nossa aliança com a China é muito importante, mas eu prefiro comprar ônibus nacionais».

Qual é a sua avaliação da visita de Lula da Silva à sede da Eletra?

O Presidente da República e seus principais ministros puderam constatar que o Brasil já possui uma cadeia produtiva completa para ônibus elétricos.

Essa linha de produção oferece produtos de alta performance com tecnologia nacional. 

A Eletra, junto com seus parceiros, tem condições de recuperar para a indústria brasileira a posição histórica de principal exportadora e fornecedora de ônibus para toda a América Latina. 

E concorrer com vantagem com o produto importado da China.

A visita do presidente Lula apresentou um exemplo concreto da «neoindustrialização» que ele e o vice-presidente Geraldo Alckmin defenderam publicamente. 

E eu a vejo como uma indústria que gera empregos, investe em tecnologia, tem compromissos ambientais e contribui para a competitividade internacional do país.

A Eletra está considerando o hidrogênio como uma tecnologia viável?

No momento, não temos opções com a tecnologia de hidrogênio, mas estamos considerando incorporá-la no futuro. 

Além disso, no final do ano passado, lançamos o mais completo portfólio de ônibus elétricos da América Latina produzidos no Brasil. 

Ônibus de 12,1m; 12,5m; 12,8m e até 15m de comprimento com carroceria Caio eMillennium, chassi Mercedes Benz e bateria e motor elétrico WEG.

Vocês lançarão novos modelos elétricos para o mercado brasileiro?

Sim, lançaremos mais três modelos este ano.

Um midi de 10 metros e um articulado de 21,5 metros, também com chassi Mercedes-Benz, carroceria Caio eMillennium, motor e bateria WEG. 

Por fim, lançaremos o E-Trol elétrico articulado, que terá a possibilidade de recarga via catenária e foi projetado especialmente para corredores segregados e Bus Rapid Transit (BRT). 

Que medidas vocês tomaram para enfrentar os desafios? 

A Eletra tentou minimizar os investimentos das operadoras de transporte em infraestrutura de recarga elétrica. 

Nossos veículos elétricos são personalizados e os fabricamos de acordo com as especificações da operadora. 

Dessa forma, podemos dimensionar o banco de baterias mais adequado para a viagem de cada ônibus, minimizando os custos.

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