Tupinambá Energia se destaca no mercado nacional com uma plataforma de gerenciamento de recarga que garante o preço da energia utilizada e permite que os proprietários de estabelecimentos comerciais criem um modelo de negócio.
Clemente Gauer, consultor da Tupinambá Energia, conversa com o Portal Movilidad sobre os pontos-chave para o mercado de mobilidade elétrica e antecipa os planos da empresa.
Em quais projetos vocês estão focados no curto prazo?
Embora tenhamos uma história de sucesso e liderança junto à Raízen Shell, com quem operamos estações de recarga em vários países da América Latina, nosso foco atual é oferecer uma plataforma cada vez mais completa e versátil para nossos parceiros.
Nesse sentido, estamos concentrando nossos esforços no desenvolvimento de software nativo em nosso aplicativo, que possui todas as características necessárias e específicas de nosso mercado.
Quais são as perspectivas de crescimento até 2024?
Nos últimos anos, tivemos um crescimento anual de 300% nas sessões de recarga e energia fornecida, e acreditamos que esse será o valor base esperado para os próximos anos.
O Brasil está apenas começando sua jornada na mobilidade elétrica, e entendemos que o grande impulsionador para sua adoção reside na melhoria da experiência do usuário.
Isso envolve a disponibilidade imediata de veículos e facilidade de recarga, tanto residencial quanto pública.
Em relação aos usuários, quais produtos eles estão procurando e quais são suas demandas?
A gestão do reabastecimento de carga para frotas é, sem dúvida, um dos produtos mais solicitados.
A Tupinambá oferece atualmente um conjunto completo de ferramentas que proporcionam aos gestores de frota uma visão sem precedentes, e para nós é importante verificar a qualidade da infraestrutura elétrica e fazer ajustes, se necessário.
Hoje em dia, é lucrativo eletrificar as frotas?
A justificativa para o custo total de uma frota elétrica é bastante ampla. No entanto, consideramos fatores como a redução drástica dos intervalos de manutenção como um ponto que geralmente não é levado em consideração.
As falhas devido a mau uso também são indicadores importantes e têm diminuído com a adoção dos veículos elétricos.
Permitir que os veículos sejam recarregados nos centros de distribuição também reduz a distância e a duração das rotas de entrega, além da complexidade financeira do abastecimento.
Em quanto tempo o investimento é recuperado?
Observamos períodos médios de amortização de 1 a 3 anos, que variam de acordo com o uso, a origem e o custo da energia, além da região.
Em relação à infraestrutura atual de carga pública, que análise vocês fazem?
Ela está passando por transformações significativas para atender às demandas da mobilidade elétrica.
Embora ainda haja desafios a serem superados, acreditamos que há motivos para otimismo, pois o país está avançando na expansão da infraestrutura, incluindo o setor de transporte de mercadorias, por meio do estabelecimento de parcerias público-privadas e investimentos em estações de carregamento de alta potência ao longo de rotas estratégicas.
Essas parcerias, juntamente com a maior disponibilidade de pontos de carga, tornam a adoção de veículos elétricos no setor de transporte de mercadorias uma perspectiva promissora.
Em quais áreas vocês implantam sua tecnologia?
Somos um provedor de serviços para a mobilidade elétrica, um «EMSP», e nosso serviço é baseado na nuvem, por isso observamos que o uso de nossa plataforma está alinhado com o desenvolvimento das redes de recarga, com uma forte presença no sudeste e centro-oeste.
Além disso, temos registros de que nossa tecnologia já pode ser utilizada em nível nacional e internacional.
Como foi a recepção do aplicativo de gestão de carga?
A recepção tem sido muito boa. Estamos nos aproximando de 10.000 usuários com alta satisfação e avaliações nas lojas de aplicativos, que consideramos ser a porta de entrada para nossa plataforma.
Os usuários podem pesquisar, reservar, iniciar o carregamento e efetuar o pagamento sem complicações.
Além disso, aceleramos o processo de registro, que costumava levar de 5 a 10 minutos, para apenas alguns segundos, permitindo o uso de credenciais da Apple e do Google, o que proporciona maior comodidade aos usuários.
Na Tupinambá, levamos em consideração que o tempo de nossos usuários é valioso, e a experiência do aplicativo está focada nisso.
Você acha que a cobrança de tarifa pelo uso dos carregadores deve ser regulamentada?
Vemos clareza na regulamentação da ANEEL, que permite que as redes de recarga explorem a cobrança por kWh, o que é muito positivo para o consumidor.
Embora ainda não haja consenso em relação à tributação, acreditamos que as características relacionadas à atividade de recarga devem ser resolvidas em breve.
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É necessário estabelecer uma regulamentação de padronização?
Pode ser cedo para regulamentar um serviço tão novo em nossa região, mas uma regulamentação adequada pode garantir a padronização, segurança e qualidade dos pontos de recarga, além de promover a concorrência justa e a transparência para os usuários.
Em primeiro lugar, a padronização é fundamental porque estabelece normas técnicas e protocolos de recarga uniformes para garantir a interoperabilidade entre diferentes fabricantes de veículos elétricos e provedores de infraestrutura, e não menos importante, permitir que os usuários tomem decisões informadas.
Nesse sentido, acreditamos que é necessário garantir o acesso e a disponibilidade com requisitos para sua distribuição em locais estratégicos, como áreas urbanas e rodovias.
Por fim, acreditamos que é importante considerar a integração dos pontos de recarga com a rede elétrica, estabelecendo diretrizes para sua conexão e gerenciamento inteligente de carga, além de incentivar o uso de energias renováveis.
O mercado brasileiro prefere tecnologia nacional ou internacional?
No contexto atual, é importante destacar que o país está em uma fase de desenvolvimento e expansão nesse setor, abrangendo vários aspectos, como equipamentos, software, veículos, modelos de negócios e parcerias.
Embora o Brasil esteja relativamente atrás de alguns países desenvolvidos, como os Estados Unidos e países europeus, em termos de disponibilidade de tecnologias avançadas, o país tem mostrado avanços significativos.
Várias empresas estão investindo em pesquisa e desenvolvimento, e ter referências do que deu certo ou errado fora do Brasil nos ajuda a entender o comportamento tanto do usuário quanto do mercado.
Acreditamos que isso nos ajuda a encontrar soluções para remediar ou antecipar possíveis problemas, e embora seja comum aproveitarmos soluções que funcionaram no exterior, ao longo do tempo a tendência é moldar a tecnologia de forma que se adapte às nossas necessidades.
Como você se posiciona em relação às tecnologias importadas?
Nossa tecnologia é desenvolvida 100% internamente.
Conhecemos boas ferramentas que são importadas, mas pensando em atender nosso mercado, que possui algumas características e peculiaridades, decidimos desenvolver algo que tenha nossa identidade e atenda às necessidades de nossos clientes.
Nossa plataforma possui todas as características básicas que qualquer outra plataforma importada oferece, mas com a adição de funcionalidades que se adaptam às particularidades que temos no Brasil.
Como funciona a disponibilidade no mercado, considerando a predominância de marcas europeias e chinesas?
Atualmente, temos o conector europeu CCS Tipo 2 e o AC Tipo 2 como os mais populares no Brasil. O Tipo 2 permite o carregamento CA em sistemas trifásicos, comuns na Europa, uma característica extremamente conveniente também para o Brasil, onde muitas residências e complexos comerciais podem desfrutar de maior potência com menor corrente.
Já o padrão chinês GB/T é incomum para os veículos ocidentais, ainda um tanto peculiar no projeto de embalagem dos veículos, uma vez que no GBT são necessários dois plugues distintos para o carregamento CA e CC.
No CCS, por outro lado, temos CA e CC combinados em um único soquete, daí o nome «CCS» ou Sistema de Carga Combinada.
Em relação ao padrão de carregamento rápido CHAdeMO, observamos que está em declínio e já é incompatível com a maioria dos veículos e estações de carregamento.
Por sua vez, os padrões norte-americanos CCS 1 (SAE) e AC Tipo 1 J1772, assim como o NACS, não oferecem a possibilidade de carregamento CA em redes elétricas trifásicas, o que os coloca tecnicamente atrás do CCS2 em termos de adequação e benefícios para os brasileiros.
No ambiente residencial, quais tendências você observa?
É justamente nas residências que cerca de 80% dos proprietários de veículos elétricos realizam o carregamento. Vemos aí uma grande oportunidade de oferecer a continuidade da experiência que temos hoje em postos públicos e comerciais da Tupinambá, com toda a riqueza de recursos e relatórios de uso e sustentabilidade que oferecemos.