A Great Wall Motors (GWM), fabricante chinesa de veículos eletrificados, começará a produzir carros no Brasil em 2024, na fábrica localizada em Iracemápolis (SP). O produto que sairá de suas linhas de produção será uma picape de médio porte baseada no atual Poer.
A empresa também está apresentando no Brasil o GWM Ora 03, o primeiro veículo 100% elétrico a ser comercializado no país até o final de 2023.
Na mesma linha, é líder de vendas no primeiro semestre do ano no segmento de picapes com o modelo plug-in da linha Haval H6.
Em conversa com o Portal Movilidad, Ricardo Bastos, Diretor de Relações Institucionais e Governamentais da GWM Brasil, analisa a implementação de uma possível Estratégia Nacional, as novidades da empresa, as novas tecnologias e a infraestrutura de recarga no Brasil.
Acha que o fabricante brasileiro poderia competir internacionalmente?
Acho que o Brasil será um grande produtor de veículos eletrificados no futuro.
O país tem uma indústria automotiva muito forte que hoje está focada no mercado de veículos a combustão, mas isso, como aconteceu em outros países, será transformado.
Grandes empresas locais e multinacionais estão começando a trabalhar em alguns componentes para veículos eletrificados, por exemplo, baterias para ônibus.
Isso se deve ao fato de que temos um grande mercado de veículos de transporte público sendo ampliado aqui mesmo.
Qual é o papel da China no mercado brasileiro?
Nosso papel tem sido o de trazer as principais tecnologias de veículos eletrificados disponíveis na China atualmente.
Quando falamos de um carro elétrico, não estamos falando de uma bateria qualquer, nem de um motor elétrico qualquer, muito menos dos sensores e da parte eletrônica.
É muita tecnologia integrada que gerencia esse motor e as baterias, muita conectividade para os usuários, muita segurança com recursos de condução semiautônoma.
Hoje podemos trazer para o Brasil opções interessantes e adaptadas ao gosto brasileiro, como fizemos, por exemplo, com o modelo Haval H6.
Construímos uma versão com motores mais potentes, com uma bateria maior, uma autonomia melhorada para o veículo e proporcional para que o consumidor se sentisse mais confiante no veículo.
Nossa leitura se mostrou correta, fazendo essas mudanças que só foram possíveis porque já tínhamos esses produtos na China.
Portanto, fizemos uma combinação especial para o Brasil, mas obviamente partindo de uma base que já existia.
Acha que os veículos movidos a biocombustível serão priorizados?
Acredito que o Brasil não produzirá veículos a combustão para sempre e que será um produtor de veículos eletrificados.
Da GWM entendemos que o país também não deve proibir os veículos a combustão, acreditamos que essa transição acontecerá naturalmente, já está acontecendo principalmente por causa dos biocombustíveis que oferecem uma redução de emissões muito forte e conexão com a agenda ambiental.
O Brasil, ao contrário de outros países, não precisa proibir os veículos a combustão, mas incentivar os veículos eletrificados.
Essa é a principal questão para o Brasil, construir essa transição de forma sustentável e equilibrada.
Acredito que seremos um produtor de veículos eletrificados e, por um bom período, também usaremos biocombustíveis.
Uma estratégia nacional de eletromobilidade beneficiaria o mercado?
Com certeza, essa é uma agenda muito importante e não apenas a GWM, mas também a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) está trabalhando arduamente com o governo brasileiro e o Congresso Nacional.
É uma agenda que não depende apenas do poder executivo. Precisamos que os parlamentares e o Congresso Nacional participem, pois é uma lei que certamente resolverá muitas questões que temos hoje, seja na área de veículos e infraestrutura de recarga, entre outras.
E no caso das montadoras de automóveis precisamos avançar na produção nacional de veículos eletrificados, para saber como essa política incentivaria a circulação de veículos de forma nacional.
Hoje já sentimos um debate muito interessante sobre as primeiras medidas de apoio à eletrificação.
Qual é a recepção dos veículos da GWM?
A GWM iniciou a comercialização dos veículos híbridos plug-in Haval H6 no Brasil e a recepção foi excelente, superando inclusive as expectativas.
Nesse sentido, fomos líderes entre os híbridos nas vendas acumuladas em nossos três primeiros meses de comercialização do modelo no Brasil.
Chegamos em um momento em que o consumidor brasileiro entende mais sobre eletrificação e os benefícios do uso do veículo no modo elétrico.
Nesse sentido, nossos plug-ins oferecem uma autonomia de 170 km, o que é muito bom para o setor.
Haverá mais novidades?
Como parte das novidades, acabamos de anunciar o início das vendas do primeiro veículo 100% elétrico, o GWM Ora 03.
Teremos um primeiro modelo este ano no Brasil, para o qual já começamos a aceitar os primeiros pedidos e sabemos que há uma demanda.
E essa é a linha que vamos seguir, estamos trabalhando muito para trazer para o Brasil e colocar no mercado produtos que o consumidor quer.
A nova fábrica, que estará operando em 2024, será capaz de atender às expectativas?
As picapes e os utilitários esportivos são veículos que têm uma demanda muito forte do consumidor, principalmente porque o Brasil é uma potência agrícola.
E nós vamos fazer uma versão híbrida que oferecerá eletricidade, mas também a possibilidade de ser flex com biocombustíveis e usar, principalmente, o etanol brasileiro.
Os primeiros modelos escolhidos para produção local são veículos que acreditamos serem as melhores opções não só para o Brasil, mas também para a América Latina.
Que tendências você vê no mercado brasileiro?
Vejo uma preferência por plug-ins e vejo uma grande oportunidade para esses modelos.
O mercado de veículos elétricos no país, considerando híbridos, plug-ins e elétricos puros, está crescendo de forma constante e continuará crescendo.
A base ainda é muito baixa, devemos chegar a 200.000 veículos em circulação no Brasil e esse é o total de vendas de 2012 até hoje.
Mas acho que vamos chegar a 500 mil muito rapidamente e em mais dois anos devemos atingir esse volume. Isso significa que vamos crescer muito.
O volume esperado no curto prazo deve ser de mais de 75.000 unidades vendidas e, no próximo ano, projetamos ultrapassar 100.000 unidades.
Considerando os investimentos em estações de hidrogênio, vocês farão o mesmo com os veículos elétricos?
No momento, estamos seguindo o que o Brasil fez com o desenvolvimento do hidrogênio verde.
Várias empresas estão trabalhando para viabilizar seu uso, como na transformação do etanol e de alguns gases em hidrogênio.
Temos interesse em usar o hidrogênio em caminhões no Brasil.
Esse projeto ainda não está pronto, ainda está sendo definido, mas a partir do ano que vem começaremos a fazer os primeiros testes com caminhões e principalmente com hidrogênio verde produzido aqui no Brasil.
Quanto aos pontos de recarga para veículos elétricos, as dificuldades que vemos hoje são, na verdade, oportunidades. Acreditamos que isso vai se desenvolver rapidamente nas regiões Sul e Sudeste, mas a expansão nacional vai demorar um pouco mais.