O governo federal está desenvolvendo um programa dedicado à melhoria da infraestrutura para veículos elétricos no Brasil. Conforme adiantado à Folha de S.Paulo, o projeto deve se chamar «Corredores Sustentáveis», e a expectativa é que fique pronto no começo de 2024.
Um dos focos será a expansão da rede de pontos de recarga pelo país. A escassez de estações de abastecimento nas estradas e cidades é uma das principais preocupações do consumidor que deseja comprar um carro elétrico, o que inibe a expansão da frota e freia o interesse de montadoras em trazer seus modelos para o mercado nacional.
Por esse motivo, o setor vinha demandando formas de amadurecer a parte de infraestrutura.
A Folha de S.Paulo apurou que empresários e representantes do setor foram informados pelo Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) de que o programa Corredores Sustentáveis está em construção, mas não entrará na segunda fase do Rota 2030, que deve se chamar Mobilidade Verde e é destinado a aumentar a eficiência do setor automotivo.
O ministério vai levar à Casa Civil uma proposta para que o programa seja incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já que tem relação com infraestrura. No entanto, por ora trata-se apenas de uma proposta.
Com a entrada no PAC, o projeto ganharia prioridade e poderia contar com recursos da União.
No entanto, Ricardo Bastos, presidente da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), diz que a participação do governo deve ser menos em termos financeiros e mais no sentido de dar previsibilidade aos investimentos que já estão sendo feitos por empresas privadas nesse setor.
«Acho que as empresas vão ter mais segurança jurídica e mais compromissos também de que esses corredores que atravessam cidades e estados vão ter segurança jurídica sobre a cobrança de tarifas, tributação, instalação.»
Procurado, o Mdic confirmou, por meio de sua assessoria, que o programa está em construção, mas que ainda não há detalhes de como vai funcionar.
Apesar das barreiras de infraestrutura, a frota de veículos eletrificados vem crescendo no Brasil. Segundo Bastos, a ABVE começou o ano com a previsão de que 70 mil unidades seriam vendidas em 2023. Agora, a previsão é de 10 mil veículos a mais.
«E quase um terço dessas 80 mil unidades já [são] produzidas no Brasil. Isso é muito importante, a eletrificação está crescendo, mas também está crescendo a produção nacional», afirma.
Presidente da Frente Parlamentar pela Eletromobilidade, o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL) diz ter conversado com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Mdic, sobre o assunto e que ele teria demonstrado interesse em expandir a infraestrutura necessária para desenvolver a eletromobilidade no Brasil.
«Ainda é necessário que se crie condições para que se tenha uma infraestrutura maior, e aí sim se justifique as empresas se instalarem aqui no país», afirma.
Segundo Cunha, o governo federal está trabalhando no programa para criar essa infraestrutura –que passa principalmente pelos pontos de recarga– com o objetivo de atrair novos consumidores de carros elétricos.
«A necessidade de se ter hoje no Brasil mais postos de recarga é um dos assuntos mais mencionados por quem está pensando em comprar um automóvel [elétrico].»
Rafael Rebello, diretor de power mobility da Raízen, diz que empresas do setor vêm mantendo diálogo com o governo federal sobre o projeto, a fim de dar contribuições.
A companhia é controlada pela Shell, multinacional de petróleo que também é uma das maiores do mundo em recarga rápida de veículos elétricos, com forte atuação na China, Europa e EUA.
No Brasil, a Raízen opera o programa Shell Recharge, que instala pontos de recarga em algumas regiões. Hoje, são 25 estações prontas e outras 35 em obra. A expectativa é chegar, até março de 2024, a cem pontos de recarga rápida -que abastecem um veículo em cerca de 35 minutos.
Para ele, o Brasil tem um potencial enorme nesse mercado de elétricos, mas a rede de recarga será fundamental.
«A gente acredita que ele [programa] é um passo superimportante para colocar o Brasil nesse cenário de energia renovável e descarbonização, como também de fomento à indústria automobilística no país», afirma.
O diretor cita algumas formas que o governo pode atuar nesse programa de expansão da infraestrutura. Legislação dedicada à instalação de redes de recarga, incentivos a distribuidoras de energia para priorização de projetos do tipo e disponibilização de espaços públicos são alguns exemplos.
«A gente pensa sempre em incentivo financeiro, mas existem incentivos não-financeiros também», diz.